Ô-ô-ô-ô Tropicaliente, 20 anos da novela


por Nilson Xavier, colunista do site do Canal Viva

Letícia (Silvia Pfeifer) e Ramiro (Herson Capri) (Foto: CEDOC/TV Globo)
Em 1994, a Globo voltou a encenar uma novela das seis fora do eixo Rio-Sampa (ou novela rural ou de época), tal qual fizera com “Sonho Meu”, que era ambientada em Curitiba (PR). Para as paradisíacas locações de “Tropicaliente”, de Walther Negrão, foi escolhido o estado do Ceará, com suas praias de verão o ano todo. Um adendo fútil: a fria Curitiba foi apresentada durante o verão 1993-1994, com atores em figurinos encasacados, enquanto a solar “Tropicaliente” foi exibida durante o inverno de 1994.

Amanda (Paloma Duarte) e Vitor (Selton Mello) (Foto: CEDOC/TV Globo)
“Tropicaliente” completa 20 anos de sua estreia no dia 16 de maio. Sabemos que não foi a primeira nem a última vez que Negrão contou uma história tendo ao fundo muito sol e mar. Começou com “Top Model” (1989-1990), numa parceria com Antônio Calmon, e continuou em “Como uma Onda” (2004-2005), que teve núcleos em Florianópolis (SC), e “Flor do Caribe” (2013), com locações no estado do Rio Grande do Norte. O próprio Ceará já tivera suas belezas desfiladas na telinha, em “Final Feliz” (1982-1983), folhetim de Ivani Ribeiro.

Ester (Ana Rosa) e Samuel (Stênio Garcia) (Foto: CEDOC/TV Globo)
Tropicaliente”, além da beleza cearense, não trouxe nada de novo a não ser o conhecido universo dramatúrgico de Walther Negrão. Talvez por isso eu tenha torcido o nariz para a novela. Havia a figura do vilão enlouquecido de amor pelo seu objeto de desejo: Vitor, personagem de Selton Mello, que amava loucamente Açucena, de Carolina Dieckmann. Este era um tipo já visto no Sr. de Montserrat (Carlos Vereza em “Direito de Amar”), Danilo (Carlos Augusto Strazzer em “Livre para Voar”), Alex Kundera (Cecil Thiré em “Top Model”) e Sérgio Santarém (Marcos Paulo em “Despedida de Solteiro”).

Açucena (Carolina Dieckmann) (Foto: CEDOC/TV Globo)
E que voltaríamos a encontrar no Marco Monterey (Herson Capri em “Anjo de Mim”), Danilo Borges (Tuca Andrada em “Era uma Vez”), Arthur Junqueira (Herson Capri em “Vila Madalena”), J.J. (Henri Castelli em “Como uma Onda”), Henrique Toledo (Daniel de Oliveira em “Desejo Proibido”) e Alberto Albuquerque (Ígor Rickli em “Flor do Caribe”). A própria história do romance entre o pescador Ramiro Soares (Herson Capri) e Letícia Velasquez (Silvia Pfeifer) – em que ele saiu para pescar, demorou a retornar, ela foi embora achando que ele tivesse morrido, e quando ele retornou não a encontrou mais – foi requentada em “Como uma Onda”.

Dalila (Carla Marins) e Cassiano (Márcio Garcia) (Foto: CEDOC/TV Globo)
Mas “Tropicaliente” tinha grandes méritos: a interpretação magistral da saudosa Regina Dourado, como Serena, mulher de Ramiro, a derradeira ponta do triângulo amoroso central formado com Letícia Velasquez. Selton Mello, novinho na época, mandou super bem como um jovem com problemas psicológicos. E Carolina Dieckmann, em seu primeiro papel de destaque em uma novela, como a doce Açucena. A sequência final em que ela abandona o rapaz no altar, é das melhores cenas de casamento desfeito na igreja de nossa Teledramaturgia.

Pitanga (Gabriela Alves) e Franchico (Cássio Gabus Mendes) (Foto: CEDOC/TV Globo)
A novela tinha o chato Franchico, um picareta vivido por Cássio Gabus Mendes, que se romantizou da metade pro final, quando passou a disputar Açucena com Vitor. Mas também tinha os divertidos Adrenalina e Pessoa, vividos por Natália Lage e Guga Coelho. Em “Flor do Caribe”, Negrão criou uma personagem muito parecida com Adrenalina: a Amaralina, interpretada por Stephany Brito. Em “Tropicaliente”, ainda, a presença da engraçadíssima perua nova rica Isabel, personagem de Lúcia Alves (como ela faz falta da TV!).

Gaspar (Francisco Cuoco) e Stela (Branca de Camargo) (Foto: CEDOC/TV Globo)
Também ganhou destaque na novela o sensual romance entre a fogosa Dalila (Carla Marins) e o galalau Cassiano (Márcio Garcia estreando como ator). “Tropicaliente” marcou também a estreia de Giovanna Antonelli e Daniela Escobar em novelas, ambas em papeis pequenos. Outro tipo que Negrão requentaria mais tarde: Davi (Delano Avelar) era um jovem que estudou mas tinha vergonha dos pais, pescadores humildes, Samuel (Stênio Garcia) e Ester (Ana Rosa). Em “Flor do Caribe”, era Hélio (Raphael Viana) quem se envergonhava os pais, também pescadores, Donato (Luiz Carlos Vasconcellos) e Bibiana (Cyria Coentro).

Letícia (Silvia Pfeifer) e François (Victor Fasano) (Foto: CEDOC/TV Globo)
Uma das melhores curiosidades de “Tropicaliente” vem do título que a novela ganhou na Rússia, quando foi exibida nesse país, onde fez um enorme sucesso – talvez pelas ambientações parecerem exóticas demais para o povo russo. Lá, “Tropicaliente” teve seu nome trocado para “Tropikanka” – “mulher tropical” em russo. A novela foi tão bem recebida pelos russos, que a trama substituta, “Mulheres de Areia”, foi batizada de “Sekret Tropikanki” – que significa “o segredo de uma mulher tropical” – ou “Tropikanka 2“. Só que uma novela não tem nada a ver com outra, a não ser a estética tropical, com praias e colônias de pescadores.

Ramiro (Herson Capri) e Serena (Regina Dourado) (Foto: CEDOC/TV Globo)
A trilha sonora internacional de “Tropicaliente” era toda de músicas latinas, o que intensificava a pegada caribenha da novela – também vista em “Flor do Caribe”. O maior sucesso do disco nacional era a música “Menina”, gravada por Netinho, que já havia sido tema de novela no passado: “Irmãos Coragem”, em 1970, numa gravação de Paulinho Nogueira. O tema de abertura, “Coração da Gente”, cantado por Elba Ramalho, grudou como chiclete e foi parodiado no humorístico “Casseta e Planeta” na época: o comediante Cláudio Manoel, travestido de Elba, aparecia de cinco em cinco minutos cantando “Ô-ô-ô-ô Tropicaliente, ô-ô-ô-ô enluará o coração da gente…”.

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